domingo, outubro 30, 2005

Tripeiros com gosto!

Quem visita o Porto ao voltar a casa leva quase sempre duas boas recordações: a amabilidade e o gosto em receber - uma característica das gentes do norte, e a excelente gastronomia que por cá se faz que não é mais do que o resultado do gosto pela boa mesa cultivado pela maioria dos habitantes da Invicta.
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Mercado do Bolhão - mercado tradicional no centro da cidade

O resultado da combinação destas duas características originou um ícone cultural e uma iguaria gastronómica que acabou por gerar a alcunha da gente da Invicta – os Tripeiros!

As famosas “Tripas à Moda do Porto” nasceram no séc. XIV. Foi por altura da construção das naus, que mais tarde haveriam de ir à conquista de Ceuta, nos estaleiros do Douro (em Massarelos, em Miragaia, no Ouro, etc.) que o prato surgiu. Tendo as naus sido construídas foi necessário equipá-las de material e mantimentos para muitos meses de mar. Para tal os homens do Porto da época abateram todas as reses e mandaram as carnes salgadas para apoiar o esforço dos Descobrimentos e as expectativas de expansão do Império tendo ficado a Cidade apenas com as miudezas.

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A receita apesar das actualizações mantém-se viva e não há tripeiro que se preze que não goste de "tripas à moda do Porto" continuando por isso a ser um dos pratos mais comuns nos muitos restaurantes espalhados pelo Porto.

Restaurante tradicional na Sé do Porto

quarta-feira, outubro 26, 2005

Um Porto das Arábias!!!!

Ora aqui está uma visão nada vulgar no dia a dia da cidade do Porto!
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A convite do Alambike Bar reunimos com alguns amigos e cumplices do costume num espectáculo exótico e de extrema sensualidade... que o digam a Ana e Pedro (Alambike) que se riram à custa dos babosos! (Dos homens!!! Dos homens!!)
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Fotografia por Mariana Ruiz
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A noite estreou-se de forma animada com a conversa a fluir numa toada alegre entre a expectativa do espectáculo e uns copitos a mais!!! Enquanto não iniciava, houve ainda tempo para lançar a inveja entre os faltosos das nossas aventuras de fim de semana por esse Portugal fora!(São muito morcões!!!! ;p )
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A música impôs-se e o espectáculo oferecido pela bela e exuberante Carolina Fonseca não deixou ninguém indiferente! A ambiência criada pela luz, música e contínuo ondular do seu corpo agarrou o olhar do público e por momentos imaginei-me nas arábias como bela e sensual bailarina a dançar de sabre em punho... A dança do ventre é efectivamente a linguagem da sensualidade que perceptível aos sentidos transforma os movimentos em imagens, os sons em cores vivas e quentes e a música num bálsamo que nos eleva a um estado de leveza e turpor...
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Com a noite envolta num ambiente de magia, ao deixar o Alambike, a Invicta parecia-nos, na penumbra e nevoeiro, uma qualquer Agadir deslocada excessivamente a norte ostentando orgulhosos minaretes apontando os céus e desafiando o sonho...

terça-feira, outubro 25, 2005

Sublimações.....


Quem vem e atravessa o rio
junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata são-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina



Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós

E esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria


Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa



Carlos Tê

sexta-feira, outubro 21, 2005

Última véspera

Agora que um longo inverno se aproxima
com os seus labirintos de sombra,
regresso àquela véspera
de onde se parte sempre,
acesos os afluentes da espera
ou as fulvas crateras da guerrilha.

Agora que as asas do silêncio
se insinuam, na crescente mancha
dos espelhos, recebo os teus olhos
como um recém-nascido, vulnerável
e combalido pela luz recente, recebe
a água do seu primeiro banho.

Inês Lourenço
Poetisa contemporânea
Nasceu no Porto em 1942

Ainda se lembram? 20 de Março de 1888... Teatro Baquet

Porto, 20 de Março de 1888... «Sei que havia, numa rua bonita, um Teatro chamado Baquet»

Há tragédias que marcam o imaginário de uma época e se transformam rapidamente e durante várias gerações em símbolos da precaridade da vida...

No dia 20 de Março de 1888, há precisamente 106 anos, o Porto viveu uma das mais terríveis tragédias da sua história recente. E o palco do drama foi deveras um palco, o do Teatro Baquet, na rua que era então de Santo António e hoje se chama 31 de Janeiro.

Fachada do teatro Baquet (1875)

Colocada a sua primeira pedra no dia 22 de Fevereiro de 1858, a construção do edifício – cuja planta foi concebida pelo seu primeiro proprietário, um alfaiate portuense de nome António Pereira Baquet – primou pela sua rapidez.

Em menos de um ano, a 13 de Fevereiro de 1859, o novo teatro dava-se solenemente a conhecer com um requintado baile de máscaras, cujo fundo musical esteve a cargo de uma orquestra pedida de empréstimo ao Teatro de S. João e dirigida pelo maestro Medina Paiva.

Livrinhos de coplas de uma zarzuela (1860)

Com a porta principal na Rua de Santo António e uma saída de serviço para Sá da Bandeira, o Baquet não era um edifício excepcional, mas possuía uma fachada agradável, enriquecida com uma varanda em pedra, onde repousavam quatro estátuas, figurando, respectivamente, a Pintura, a Música, a Comédia e as Belas-Artes.

O desenho da frontaria coube a Guilherme Correia e as pinturas da sala foram realizadas por João de Faria Teives. No interior, destacavam-se ainda os panos de boca, ornamentados com perspectivas do Porto.

Mas o que, do ponto de vista arquitectónico, distinguia o Baquet de outros teatros era o facto de estar, por assim dizer, enterrado. A primeira das suas três fiadas de camarotes ficava ao nível da rua, e à plateia descia-se por duas escadarias laterais.

Quando faleceu António Pereira Baquet, em 1869, a notoriedade do seu teatro já ultrapassara as fronteiras nacionais. Entre muitos outros nomes sonantes dos meios musicais de Oitocentos, apresentou-se aqui o célebre virtuoso espanhol do violino, Sarazate, que viria a ter no pianista português Viana da Mota um dos seus colaboradores regulares. E terá sido também no Baquet que, pela primeira vez, se representaram operetas interpretadas por companhias portuguesas.

Emília das Neves - Actriz do Teatro Baquet (1860)

Mas esta história que se pretende aqui contar é apagada de brilhos, a "história de uma noite desenrolada sob a asa do destino"...

O vento soprava veloz à entrada da Rua de Santo António e os transeuntes, com abafos de inverno, rumavam quase todos para o mesmo destino: a fachada iluminada do Teatro que anunciava um espectáculo único para essa noite - Os Dragões de Vllars (opereta cómica) e a Gran Vía (zarzuela de frederico Chueca e Joaquín Valverde, traduzida e adaptada por Guedes de Oliveira).

O Maestro Ciríaco Cardoso dirigia a orquestra. A casa estava lotada.

Maestro Ciríaco Cardoso

A Gran Vía reproduzia sobre o palco do Baquet um sátira política contra a demolição dos velhos quarteirões de Madrid em prol de uma nova e sofisticada artéria na cidade (analogia óbvia com a cidade de Lisboa que inagurara a sua primeira avenida em 1886).

Antes da passagem ao último quadro, o público, delirante, pedia um encore da última cena. Nos bastidores, um actor que aguardava o momento de reentrar em cena reparou que o tecto fingido do cenário estava a arder. Gritou que descessem a bambolina e a grande tela do quadro seguinte voltou a desenrolar-se com um estrondo.

Ninguém se aperebeu do que se estava a passar... apenas alguma agitação sob o cenário e um vago crepitar...

Poucos segundos depois os ocupantes do camarote 24 situado mesmo por cima do palco dão-se conta do perigo e saem corredor fora largando um deles o grito «Fogo!». É então que a sala inteira acorda do encantamento da música e das luzes...

... e começa a trágica confusão...

O horror estampado em todos os rostos que corriam pelas coxias sem esperar o alarme. Muitos espectadores esbarram com quem sai das primeiras filas, acumulando-se no fim do estreito corredor para a Rua de Santo António. Aí vão sendo empurrados e pisados por quem está atrás, numa onda de terror apertada e às escuras (o gás é imediatamente desligado, deixando o teatro imerso em trevas)...

Alguns quinze minutos após ter sido detectado o fogo, já caíra o tecto do palco e a fachada que dava para Sá da Bandeira ameaçava ruir a todo o momento. As chamas começavam a lamber os prédios vizinhos, obrigando os respectivos inquilinos a abandonar apressadamente as suas casas. Vários populares atravessaram as chamas para resgatar crianças e mulheres que ainda se encontravam no interior do teatro. Da varanda do edifício, vários espectadores lançaram-se à rua, quebrando braços e pernas.

Incêndio no teatro Baquet (1888) - entrada por Sá da Bandeira

Os bombeiros voluntários chegavam à Rua de Sá da Bandeira onde combateram as chamas, visto ser essa a entrada «oficial» do teatro. Só mais tarde se lembraram de ir acudir à porta de Santo António... onde atónitos os bombeiros confirmaram a existência de um autêntico mar de corpos carbonizados...

Interior do Teatro Baquet após o incêndio (1888)

Não se sabendo mesmo ao certo quantas pessoas haviam perecido no fogo (mais de uma centena), foi decidido que se faria um funeral colectivo na noite de 23 de Março, no Cemitério de Agramonte, num jazigo monumental e comum, construído com bocados de escombros, ferros retorcidos dos camarotes e colunas chamuscadas.

Exéquias fúnebres em homenagem as falecidos na Igreja da Lapa (Gravura)

Nos dias seguintes à tragédia, realizaram-se inúmeras iniciativas destinadas a recolher fundos para auxílio das famílias enlutadas. A mais importante foi, provavelmente, a Matinée da Imprensa Portuense, no Palácio de Cristal, a que assistiram a rainha D. Maria Pia e o infante D. Afonso. As orquestras do Baquet e do Teatro do Príncipe Real (hoje de Sá da Bandeira) actuaram em conjunto, e Bordalo Pinheiro associou-se ao evento dispondo-se a realizar "caricaturas instantâneas" de personalidades conhecidas.

Após a "matinée", D. Maria Pia percorreu durante quatro horas as casas dos parentes das vítimas, distribuindo generosamente libras de ouro. O líder do Partido republicano, Alves da Veiga, foi um dos visitados, não porque lhe tivesse morrido alguém, mas porque recolhera dois órfãos de um dos mortos do Baquet. João Chagas, que viria a colaborar com Alves da Veiga na intentona do 31 de Janeiro, acompanhou a visita e deixou-nos a descrição pormenorizada desse tocante "momento de conciliação de dois princípios", que reuniu num acto solidário a máxima representante da monarquia e o chefe da oposição republicana.

O Teatro Baquet passou assim à história, envolto numa capa de lenda e de tristeza... imortalizando-se um palco de emoções, luxo e fantasia...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Passeio Alegre...




Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.

Eugénio de Andrade
Rente ao Dizer (1992)
In Poesia

quarta-feira, outubro 12, 2005

Ainda se lembram?

Hoje deixo aqui um pequeno grande desafio!!!!
Um teste ao vosso conhecimento acerca da Cidade do Porto!!
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Esta fotografia representa um local antigo, no Centro da Cidade...
Alguém sabe o que representa?

segunda-feira, outubro 10, 2005

Nos teus braços....

Foz


Hoje podes estar sem horizontes, sem azuis dos mares... Quando a tempestade nos inquieta... o vento uiva... o tremor domina... e se sente o vazio na alma... abraçamos a tempestade e rumo ao porto navegamos...

Um porto de abrigo íntimo... que não recua quando nos toca...
E apesar de perdermos o mar... o céu azul... o teu porto será calmo... firme... que te dá a mão para prenderes as tuas amarras...

sexta-feira, outubro 07, 2005

Portugal...

Existe um país onde um cidadão de 81 anos depois de ter cumprido 10 anos de mandato como Presidente da República e de ter estado 10 anos de molho decide candidatar-se novamente para salvar o país de um fantasma, passando por cima de um amigo de longa data.
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Existe um país onde três candidatos autárquicos com fortes probabilidades de vencer estão indiciados por processos fraudulentos e uma outra candidata a candidata com mandato de prisão emitido e foragida no Brasil, tem toda a cidade a aguarda-la tal qual D.Sebastião.
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Existe um país onde o único escritor galardoado com o prémio nobel da Literatura vive no país vizinho.

Existe um país de onde é oriundo aquele que é considerado o melhor treinador de futebol da actualidade, cujo seleccionador nacional é estrangeiro.
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Euro 2004

Existe um país onde o maior sucesso nacional do ano é um disco de originais de um músico que morreu há quinze anos.

Existe um país onde os dois guarda-redes da selecção nacional são suplentes de dois guarda-redes da mesma nacionalidade nos respectivos clubes.

Existe um país onde o nome da mascote do principal evento desportivo alguma vez organizado começa por uma letra (k) que não faz parte do seu alfabeto.


Esse país estranho é o meu país!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Recantos 2....e assim se vai o verão...

Aqui fica um conselho para quem gosta de relaxar e vive na Invicta ou cá pertinho!
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Parque da Cidade (junto à Foz)
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Apesar de o Verão ter chegado ao fim (snif snif...) e já se notar um friozinho pela manhã (snif snif novamente!) aconselho a todos um passeiozito até à praia atravessando primeiro o nosso belo Parque da Cidade junto à Foz!
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Parque da Cidade - Março 2005

Um belo espaço para relaxar, conversar ou tentar manter a forma fisica depois de um verão guloso!

Parque da Cidade (Outubro 2005)

segunda-feira, outubro 03, 2005

Eclipse na Cidade Invicta!

Ora aqui ficam algumas belas fotografias do nosso Eclipse de hoje visto algures na Cidade Invicta!



Gentilmente cedida por Américo Ferreira

Gentilmente cedida por Américo Ferreira

domingo, outubro 02, 2005

Coisas com História... Real e Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa


Nossa Senhora da Lapa


No princípio do ano de 1754 encontrava-se na Capital, exercendo o seu ministério de grande orador sagrado, o Reverendo Ângelo Ribeiro de Sequeira, natural de S. Paulo – Brasil. A fama do seu verbo encontrou eco na Cidade Invicta para a qual D. Diogo de Sousa – Governador de Armas – o convidou e onde os seus sermões constituíram o mais apaixonantes dos êxitos.

Em Fevereiro do mesmo ano o Sacerdote expôs à Mitra a sua pretensão de erigir uma Capela em honra de da Nossa Senhora da Lapa e um seminário (para facultar instrução moral e literária à juventude). Por Despacho de 30 de Dezembro de 1754 a Câmara do Porto cede o terreno necessário à sua construção num “ponto dominante e de horizonte dilatado” – na raiz do Monte de Santo Ovídio (Germalde).

Igreja da Lapa - gravura retirada de "O Tripeiro"

Assim se coloca a 1ª pedra a 7 de Janeiro do ano de 1755 da dita Capela hoje desaparecida da qual apenas resta a sua fachada que fica contígua ao muro da parte sul do cemitério, solenemente inaugurada aos 27 dias do referido mês.

Nesse tempo, junto à pequena Capela situada num sítio ermo onde desembocavam as sinistras estradas vindas de Braga e Guimarães, quadrilhas de salteadores saíam ao caminho dos viajantes, praticando toda a casta de crimes e extorções. Muitas vezes acontecia os delinquentes desejarem aliviar a consciência restituindo os bens roubados a seus donos. Sem meio para o fazerem o Padre Ângelo mandou construir junto à Capela um hospício, onde os jovens depositavam os bens roubados e os espoliados recuperavam os seus valores deixando a título de reconhecimento uma avultada esmola.

Igreja da Lapa - Interior

No entanto, o número de fieis que acorria à Capela aumentava, tornando-se necessária a construção de um templo de maiores dimensões, sendo incumbido o arquitecto João Strovel de fazer o risco da nova Igreja e colocada a 1ª pedra a 17 de Julho de 1956. No entanto, por divergências várias a obra não teve prosseguimento e apenas a 2 de Julho de 1759 é encarregado o arquitecto José de Figueiredo Seixas de elaborar nova planta, reiniciando assim o processo de construção.

O tempo foi correndo e as divergências com a jurisdição paroquial do novo templo, o enfraquecimento de recursos e as invasões Napoleónicas acabaram por diminuir o ritmo da obra e atrasar a sua conclusão em 107 anos, que apenas ficou concluída em 1863 à custa de variadas doações de beneméritos paroquiais.


Em virtude dos testemunhos de lealdade e dedicação da nobre Cidade do Porto e seus habitantes ao Reino, D. Pedro IV desejou que aqui ficasse, post-mortem, o seu coração como sentimento de gratidão e reconhecimento.
Assim, a 5 de Fevereiro de 1835 chegou à barra do Rio Douro uma embarcação com o real legado, sendo transladado para a Irmandade da Lapa dois dias depois sob testemunho de mais de 12 mil pessoas, ostentando luto carregado e empunhando tochas acesas.


Mausoléu onde se encontra o coração do Rei-Soldado talhado em granito e terminado em 1837

Vitrais de 1927 – representam Jesus Cristo entre os doutores do templo

Altar-Mor da Igreja da Lapa