sexta-feira, novembro 18, 2005

Praça da Liberdade


Agora que tanto se fala do projecto de requalificação da Avenida dos Aliados, parece-me engraçado recordar a evolução da Praça da Liberdade ou melhor do antigo Campo das Hortas onde esta foi construída, e do sítio do Laranjal, ao longo do qual se viria a rasgar a Avenida dos Aliados.
Até aos finais do século XV a cidade do Porto confinava-se ao interior da muralha fernandina, ao longo da qual havia várias portas e postigos. Um desses, aberto em 1408, chamado Postigo dos Carros, deu origem, em 1521, a uma porta com o mesmo nome. Ficava num local que hoje podemos indicar como tendo sido em frente à entrada principal da igreja dos Congregados. Esta Porta abria para a estrada de Guimarães, para o Campo das Hortas e para o Laranjal, onde ainda corria o rio de Liceiras e outros pequenos cursos de água, hoje canalizados.
Ao longo da sua existência, a Praça da Liberdade conheceu, várias designações toponímicas, ao sabor dos acontecimentos que foi testemunhando. Foi aberta no século, XVIII, no então chamado Campo das Hortas (antes de 1711), Casal de Novais (no século XV), Largo da Natividade (depois de 1682, devido à fonte lá construída nesse ano), Praça Nova das Hortas (depois de 1711), Praça da Constituição (l820), Praça Nova (de novo, em 1823), Praça de D. Pedro IV (l833), Praça da República (l3 de Outubro de 1910) e Praça da Liberdade (desde 27 de Outubro de 1910).
A sua construção deveu-se ao progressivo crescimento da cidade e foi o bispo D. Tomás de Almeida (l709-1717), quem mandou abrir na muralha o Postigo de Santo Elói para maior comodidade da população, dotando o então Campo das Hortas com um grande átrio. Nela se registaram os principais factos históricos da cidade desde o século XIX.
Foi lugar de encontro de políticos, escritores e artistas e transformou-se no verdadeiro coração social e político do Porto. Entre os seus marcos ficarão para sempre a morte por forca dos liberais, em 1829, (depois reabilitados como «mártires da liberdade») e nela foi também proclamada a República, pela primeira vez no País, em 31 de Janeiro de 1891. Em 1866, é oficialmente inaugurado o monumento ao rei liberal, uma homenagem da Cidade a D. Pedro IV.
Em 1916, quando a Câmara decidiu rasgar a moderna Avenida dos Aliados e construir, no fecho do topo norte, o majestoso edifício camarário, desapareceram muitos dos velhos edifícios que circundavam a então Praça de D. Pedro IV (entre os quais os emblemáticos cafés Suísso e Guichard, locais «obrigatórios» de encontro de políticos e homens de letras), substituídos pelas modernas construções que agora ladeiam a praça.
Desapareceu também a Fonte da Arca ou da Natividade, uma grandiosa e vistosa fonte seiscentista e os respectivos tanques, que ocupavam o lado ocidental da praça, à entrada da Rua dos Clérigos. O único dos edifícios dos século XIX é o Palácio das Cardosas, ainda existente no local.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Beijo




Não posso deixar que te leve
O castigo da ausência,
Vou ficar a esperar
E vais ver-me lutar
Para que esse mar não nos vença.

Não posso pensar que esta noite
Adormeço sozinho,
Vou ficar a escrever,
E talvez vá vencer
O teu longo caminho.

Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,

Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua.

Leva os meus braços,
Esconde-te em mim,
Que a dor do silêncio
Contigo eu venço
Num beijo assim.

Não posso deixar de sentir-te
Na memória das mãos,
Vou ficar a despir-te,
E talvez ouça rir-te
Nas paredes, no chão.
Não posso mentir que as lágrimas
São saudades do beijo,
Vou ficar mais despido
Que um corpo vencido,
Perdido em desejo.

Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,
Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua.

Silêncio, 1999

Estendais















Foto - S. Pedro de Miragaia


Em alguns invernos mais chuvosos,
em Miragaia que foi a Madragoa de
Pedro Homem de Mello, o Douro
salta a margem e entra pelos arcos
onde se demora no rés-do-chão
das casas, por duas madrugadas.

Mas são os estendais, à janela
agitados pelo vento nas abertas da chuva,
que nos trazem a urgência e a constância
dos corpos, nas mangas pendentes
de camisas, camisolas ou na roupa

interior, última margem dos íntimos rios,
onde os poliesteres aboliram os felpos, os linhos
as cambraias. Só a cor branca dos lençóis teima
lá no alto, a abrir velas ao desejo do sol
e à memória de obscuras lavadeiras, que faziam
heróicas barrelas na espuma inocente do sabão.

Inês Lourenço
Poetisa Contemporânea
Portuense

quarta-feira, novembro 09, 2005

Manifestação na e pela Praça da Liberdade

Praça da Liberdade


O Porto sempre foi conhecido com uma cidade cinzenta devido ao uso predominante do granito na construção, sobretudo no núcleo histórico e na baixa, e essa foi umas das características que ao longo dos tempos lhe deu carácter.
Nos últimos anos as obras de requalificação da Cidade, que ganharam impulso com a preparação para o Porto Cidade Europeia da Cultura em 2001 e se têm arrastado desde aí com as obras do Metro, têm acentuado esta característica até à exaustão.
Não bastava termos a cidade do Porto completamente esburacada, com um trânsito a ultrapassar o caótico, somos agora forçados a aceitar de bom grado todas as más opções de planeamento urbano e paisagístico que se têm feito. Ninguém se esquece do Edíficio Transparente, os parques automóveis que nunca são usados, o alargamento desmedido dos passeios ao ponto de inviabilizar o tráfego automóvel, a remoção de imensos jardins e espaços verdes... agora temos obras de requalificação na Avenida dos Aliados e na Praça da Liberdade, que pelo projecto dos arquitectos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura prometem ajudar a desfigurar estes espaços que assumem grande importância simbólica na Cidade do Porto.
As críticas em blogues na Internet, bem como as queixas junto da Assembleia da República, Inspecção do Ambiente, Ministério Público e Procuradoria–Geral da República já não sáo novas mas o poder político parece ter desenvolvido um certo autismo egocentrista que se refugia na segurança do prestígio dos arquitectos.
Em resposta o batalhão da frente que tem liderado a contestação avança agora com uma manifestação com o slogan «Juntos na Praça da Liberdade, pela Praça da Liberdade», contestando, principalmente, a remoção da calçada portuguesa dos passeios.
A manifestação está marcada para próximo sábado dia 12 de Novembro às 11 horas! Manifestem-se por lá e por cá!

terça-feira, novembro 08, 2005

Exposição Etnologia e Arqueologia | Mendes Correia

OUT/NOV'05

Está aberta ao público desde Outubro a exposição Etnologia e Arqueologia Mendes Correia é uma iniciativa da Universidade Júnior - U.Porto - que conta com o Apoio da Câmara Municipal do Porto – Porto Cidade de Ciência.
A exposição apresenta peças do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da UP e pretende dar uma panorâmica da arte, religião e cultura material de povos de vários continentes. Está ainda patente informação sobre diversas expedições antropológicas que, sob a influência do Prof. Mendes Correia, investigadores da U.Porto empreenderam às (então) colónias, numa altura em que os estudos coloniais procuravam de forma patriarcal “atrair carinhosamente” os povos dominados “ao convívio da população de origem metropolitana”.
A exposição foi pensada para alunos do ensino básico e secundário estando disponíveis monitores para o acompanhamento de visitas de grupo que incluem ainda uma visita guiada pelo Jardim Botânico da U.Porto. Se não se enquadram neste público não se preocupem as peças expostas para além do valor estético escondem normalmente histórias engraçadas que vale a pena conhecer!

Desculpem mas não resisti à vontade de fazer alguma publicidade…

quinta-feira, novembro 03, 2005

Grande Prémio do VII PortoCartoon-World Festival

O Museu Nacional de Imprensa, no Porto, inaugura na sexta-feira, dia 4 de Novembro, o VII Porto-Cartoon World Festival. Parece-me um bom pretexto para dar um salto a um museu que tem ocupado um espaço um pouco periférico no panorama cultural do Porto e aproveitar para ver as obras de requalificação urbana que têm sido feitas naquela zona.


Vão estar em exposição cerca de 200 trabalhos seleccionados, por um júri internacional, entre mais de 1100 trabalhos de 363 cartunistas provenientes de 53 países. Este ano o tema escolhido foi o “Humor e Sociedade” em homenagem ao trabalho de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) que há 130 anos criou a famosa figura do “Zé Povinho” (1875).

1º Prémio - Valentin Druzhinin - Rússia s/ título

O cartunista russo Valentin Druzhinin foi vencedor deste Grande Prémio do VII PortoCartoon-World Festival, organizado pelo Museu Nacional da Imprensa. O segundo prémio foi atribuido a David Vela Cervera de Espanha e o terceiro a Mikhail M. Zlatkovsky, também da Rússia.

"O Primeiro Beijo"
2º Prémio - David Vela Cervera - Espanha

O PortoCartoon-World Festival é considerado pela FECO (Federation of Cartoonists Organisations), um dos três principais festivais de desenho humorístico do mundo, uma distinção que coloca Portugal no topo dos concursos internacionais de caricatura.
3º PRÉMIO - Mikhail Zlaykovsky - Rússia s/ título

E reafirma a cidade do Porto como pólo de grande vitalidade cultural no panorama nacional e internacional!