quinta-feira, novembro 17, 2005

Estendais















Foto - S. Pedro de Miragaia


Em alguns invernos mais chuvosos,
em Miragaia que foi a Madragoa de
Pedro Homem de Mello, o Douro
salta a margem e entra pelos arcos
onde se demora no rés-do-chão
das casas, por duas madrugadas.

Mas são os estendais, à janela
agitados pelo vento nas abertas da chuva,
que nos trazem a urgência e a constância
dos corpos, nas mangas pendentes
de camisas, camisolas ou na roupa

interior, última margem dos íntimos rios,
onde os poliesteres aboliram os felpos, os linhos
as cambraias. Só a cor branca dos lençóis teima
lá no alto, a abrir velas ao desejo do sol
e à memória de obscuras lavadeiras, que faziam
heróicas barrelas na espuma inocente do sabão.

Inês Lourenço
Poetisa Contemporânea
Portuense

2 comentários:

Susy disse...

Se há paisagem bela é Miragaia vista do lado de lá do Rio...

As roupas estendidas ao vento... quais velas que exaltam os desejos de sonhar de um povo que sempre desejou ser grande e voar!

Lindo!

Beijinhos!

Gelly disse...

Ahhh como eu gostava de morar por lá!!!
:)