domingo, outubro 02, 2005

Coisas com História... Real e Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa


Nossa Senhora da Lapa


No princípio do ano de 1754 encontrava-se na Capital, exercendo o seu ministério de grande orador sagrado, o Reverendo Ângelo Ribeiro de Sequeira, natural de S. Paulo – Brasil. A fama do seu verbo encontrou eco na Cidade Invicta para a qual D. Diogo de Sousa – Governador de Armas – o convidou e onde os seus sermões constituíram o mais apaixonantes dos êxitos.

Em Fevereiro do mesmo ano o Sacerdote expôs à Mitra a sua pretensão de erigir uma Capela em honra de da Nossa Senhora da Lapa e um seminário (para facultar instrução moral e literária à juventude). Por Despacho de 30 de Dezembro de 1754 a Câmara do Porto cede o terreno necessário à sua construção num “ponto dominante e de horizonte dilatado” – na raiz do Monte de Santo Ovídio (Germalde).

Igreja da Lapa - gravura retirada de "O Tripeiro"

Assim se coloca a 1ª pedra a 7 de Janeiro do ano de 1755 da dita Capela hoje desaparecida da qual apenas resta a sua fachada que fica contígua ao muro da parte sul do cemitério, solenemente inaugurada aos 27 dias do referido mês.

Nesse tempo, junto à pequena Capela situada num sítio ermo onde desembocavam as sinistras estradas vindas de Braga e Guimarães, quadrilhas de salteadores saíam ao caminho dos viajantes, praticando toda a casta de crimes e extorções. Muitas vezes acontecia os delinquentes desejarem aliviar a consciência restituindo os bens roubados a seus donos. Sem meio para o fazerem o Padre Ângelo mandou construir junto à Capela um hospício, onde os jovens depositavam os bens roubados e os espoliados recuperavam os seus valores deixando a título de reconhecimento uma avultada esmola.

Igreja da Lapa - Interior

No entanto, o número de fieis que acorria à Capela aumentava, tornando-se necessária a construção de um templo de maiores dimensões, sendo incumbido o arquitecto João Strovel de fazer o risco da nova Igreja e colocada a 1ª pedra a 17 de Julho de 1956. No entanto, por divergências várias a obra não teve prosseguimento e apenas a 2 de Julho de 1759 é encarregado o arquitecto José de Figueiredo Seixas de elaborar nova planta, reiniciando assim o processo de construção.

O tempo foi correndo e as divergências com a jurisdição paroquial do novo templo, o enfraquecimento de recursos e as invasões Napoleónicas acabaram por diminuir o ritmo da obra e atrasar a sua conclusão em 107 anos, que apenas ficou concluída em 1863 à custa de variadas doações de beneméritos paroquiais.


Em virtude dos testemunhos de lealdade e dedicação da nobre Cidade do Porto e seus habitantes ao Reino, D. Pedro IV desejou que aqui ficasse, post-mortem, o seu coração como sentimento de gratidão e reconhecimento.
Assim, a 5 de Fevereiro de 1835 chegou à barra do Rio Douro uma embarcação com o real legado, sendo transladado para a Irmandade da Lapa dois dias depois sob testemunho de mais de 12 mil pessoas, ostentando luto carregado e empunhando tochas acesas.


Mausoléu onde se encontra o coração do Rei-Soldado talhado em granito e terminado em 1837

Vitrais de 1927 – representam Jesus Cristo entre os doutores do templo

Altar-Mor da Igreja da Lapa

3 comentários:

RA disse...

Se é verdade que nunca sabemos quem somos sem conhecermos a nossa história então parece-me que temos aqui um excelente contributo para quem julga (como eu!) conhecer o Porto. A pesquisa histórica está muito boa, recheada de detalhes sem perder de vista o fundamental, e as fotos que a acompanham estão fantásticas!

Parabéns Susy!
:)

Miguel Gonçalves disse...

Magnífica a tua ideia de colocar aqui um pouco da história de uma das mais belas igrejas do Porto (mas eu sou suspeito por dizer isso, né?)!

Agora só te deve faltar a história das outras 754937598475893 igrejas de cá do burgo! ;)

Bjs

Anónimo disse...

Muito interessante a abordagem histórica da Lapa, a igreja que frequentei em miúdo :)